O jardim é para o filósofo o espaço simbólico do cosmos do seu autor. Frequentemente, é fechado, íntimo, e até misterioso. Concentram-se nele as formas que exprimem a ordem do universo do seu criador e que este quer revelar a si próprio e ao mundo. O jardim simboliza: liga o homem a universos imaginários desde a origem dos tempos. É também um espaço fechado onde se cultivam vegetais úteis, de acordo com conhecimentos, experiências e fontes de inspiração do seu autor. A referência pode ser o vizinho, Versalhes ou Hampton Court.
Ao longo da história, a sua riqueza e a sua diversidade são imensas. No Ocidente, foi babilónico, egípcio, romano, medieval, italiano, barroco ou inglês. É conhecido noutras culturas como as dos países muçulmanos ou do Extremo Oriente. Obra de arquitecto, é restaurado periodicamente como património que testemunha uma cultura, um estilo, uma época e a originalidade eventual do seu autor. O jardim acompanha a vida dos homens, mais velhos do que novos, e exprime uma perfeição ideal na relação com a natureza. É perene e efémero, jardim de inverno ou de verão, adaptando-se às estações e colocando-se à mercê dos sentidos. Quando público, procura a consagração do seu autor, jardineiros e encomendador. Se privado, traduz o mundo íntimo de uma amador apaixonado, de um mecenas, ou de um simples habitante. Pode ser uma jardim de um castelo ou de um subúrbio.
É também funcional. Cada uma das suas partes se adapta a uma utilidade: pomar, horta, medicinal, de flores, botânico, aquático; pode ser alpino, mediterrânico, e sugerir, enquanto jardim selvagem ou ecológico, a liberdade de crescimento e o desenvolvimento das plantas e dos animais. Cada período da história cultural de uma sociedade é marcado pelos seus jardins. Reportando-se à linguagem artística, bem como às formas da natureza selvagem (a primeira natureza) ou cultivada ( a segunda natureza), os jardineiros e paisagistas reinventaram uma terceira natureza, organizada pela geometria e arquitectos no caso do jardim regular, ou inspirada pela arte pictórica no caso do jardim sensível.
Sendo um lugar concreto, o jardim pode também ser utilizado como metáfora, não somente em literatura, teatro ou cinema, mas também no discurso corrente. Ao qualificar la Touraine como o jardim de França, pretende-se dizer que a França, como o Vale do Loire é terra fértil na qual os homens podem encontrar a riqueza e a felicidade. Da mesma forma, quando o paisagista Gilles Clément ilustra a sua ideia de jardim planetário com La Villette, propõe que “ juntos decidamos que a terra é um só e pequeno jardim”. A sua mensagem – ecológica - sugere que é possível “consumir sem degradar, viver sem destruir”, à qual o sociólogo Edgar Morim chamaria uma utopia realista e não quimérica.
O interesse por jardins revela, na cultura ocidental, uma evidência que o transforma em argumento retórico alternativo ao caos urbano, ao risco de envenenamento dos alimentos, à degradação do património natural ou à miséria sociológica dos subúrbios. Ninguém resiste à retórica do jardim, universo angélico de beleza, de bondade e de pureza. A ideia de jardim funciona como lugar simbólico de um discurso crítico que condena a vida actual sem imputar a causa à sociedade que a produz.
trad. e adapt. Donadieu, Pierre. La société paysagiste. Arles: Actes Sud, 2002.
Ao longo da história, a sua riqueza e a sua diversidade são imensas. No Ocidente, foi babilónico, egípcio, romano, medieval, italiano, barroco ou inglês. É conhecido noutras culturas como as dos países muçulmanos ou do Extremo Oriente. Obra de arquitecto, é restaurado periodicamente como património que testemunha uma cultura, um estilo, uma época e a originalidade eventual do seu autor. O jardim acompanha a vida dos homens, mais velhos do que novos, e exprime uma perfeição ideal na relação com a natureza. É perene e efémero, jardim de inverno ou de verão, adaptando-se às estações e colocando-se à mercê dos sentidos. Quando público, procura a consagração do seu autor, jardineiros e encomendador. Se privado, traduz o mundo íntimo de uma amador apaixonado, de um mecenas, ou de um simples habitante. Pode ser uma jardim de um castelo ou de um subúrbio.
É também funcional. Cada uma das suas partes se adapta a uma utilidade: pomar, horta, medicinal, de flores, botânico, aquático; pode ser alpino, mediterrânico, e sugerir, enquanto jardim selvagem ou ecológico, a liberdade de crescimento e o desenvolvimento das plantas e dos animais. Cada período da história cultural de uma sociedade é marcado pelos seus jardins. Reportando-se à linguagem artística, bem como às formas da natureza selvagem (a primeira natureza) ou cultivada ( a segunda natureza), os jardineiros e paisagistas reinventaram uma terceira natureza, organizada pela geometria e arquitectos no caso do jardim regular, ou inspirada pela arte pictórica no caso do jardim sensível.
Sendo um lugar concreto, o jardim pode também ser utilizado como metáfora, não somente em literatura, teatro ou cinema, mas também no discurso corrente. Ao qualificar la Touraine como o jardim de França, pretende-se dizer que a França, como o Vale do Loire é terra fértil na qual os homens podem encontrar a riqueza e a felicidade. Da mesma forma, quando o paisagista Gilles Clément ilustra a sua ideia de jardim planetário com La Villette, propõe que “ juntos decidamos que a terra é um só e pequeno jardim”. A sua mensagem – ecológica - sugere que é possível “consumir sem degradar, viver sem destruir”, à qual o sociólogo Edgar Morim chamaria uma utopia realista e não quimérica.
O interesse por jardins revela, na cultura ocidental, uma evidência que o transforma em argumento retórico alternativo ao caos urbano, ao risco de envenenamento dos alimentos, à degradação do património natural ou à miséria sociológica dos subúrbios. Ninguém resiste à retórica do jardim, universo angélico de beleza, de bondade e de pureza. A ideia de jardim funciona como lugar simbólico de um discurso crítico que condena a vida actual sem imputar a causa à sociedade que a produz.
trad. e adapt. Donadieu, Pierre. La société paysagiste. Arles: Actes Sud, 2002.